Minha linda Luíza:
Entendo perfeitamente porque você gritou hoje na hora de pegar a veia. Já fazia um tempo que você vinha se controlando, mas tem dias que a gente está mais sensível, mais tensa, mais dolorida... queria te dizer isso lá na hora, porém, meu papel naquele momento era de mediadora. Eu precisava deixar você mais calma, já que era necessário colocar o acesso para o soro correr. Inevitável, meu amor, como muitas coisas na vida...
Você está entendendo isso da maneira mais cruel e dolorosa que uma pessoa pode entender. Está enfrentando situações que não foram feitas para menininhas fofas e pequenas como você passar. E isso está fazendo com que você amadureça bem mais rápido do que outras crianças da sua idade. Não posso te dizer que isso é bom, mas com certeza é uma vantagem que temos de enxergar nesse episódio todo.
Naquele momento que você berrava de dor enquanto as enfermeiras caçavam sua veia (que resistia em aparecer, tamanho era o frio desta manhã), eu olhava nos teus olhos e pensava: "como eu queria levá-la a lugares lindos, divertidos e gostosos, em vez de trazê-la nesse hospital e ver os seus olhinhos me implorando para tirá-la dali!".
Juro, se eu não fosse extremamente responsável pela sua saúde, eu tinha arrancado você daquela cama e corrido pra casa, para ficar com você deitadinha no sofá da sala assistindo Dino Dan!
Filha, sei que o pior já passou... tanto eu quanto o papai estamos cientes disso. Mas, por outro lado, nós não conseguimos mais amansar nosso coração. Sabemos que o tratamento não acaba com o fim das quimios. Ainda vamos conviver com a angústia em cada exame, com o medo em cada febre boba que você tiver...
Nos policiamos para tocar a vida normalmente. Você vai ter de volta sua vida (como você mesma diz). Com o fim das quimios, vai poder voltar pra escola, ir ao cinema, passear no shopping, viajar pra praia... estamos empenhados para que isso aconteça o quanto antes.
Pra você, isso será apenas uma vírgula na sua linda história. Isso é o mais bonito na infância. Ficamos só com o que vivemos. Não carregamos o peso da angústia e do sofrimento antecipado. Você pode até guardar na sua memória vagas lembranças dos dias de pânico de agulha, mas vai lembrar muito mais das brincadeiras com os coleguinhas de quimio do que das agulhadas...
Que bom que é assim!
Algumas vezes, quero te pedir desculpas por esses momentos difíceis. Não porque eu me sinta culpada por alguma coisa. Mas seria uma maneira de dizer que você jamais deveria ter passado por isso. Nenhuma criança deveria ter de enfrentar tudo isso. Aliááás, não desejo isso pro meu pior inimigo (nem sei se eu tenho algum...).
Diante de tudo isso que nos aconteceu, só tenho uma coisa a te dizer: nós te amamos demais! A cada dia que passa, sinto mais orgulho por ser sua mãe (e o papai também pensa assim). Você é forte, alegre, pura, autêntica, doce, carinhosa, inteligente... o meu pedaço mais precioso!
Vamos aguentar firme, pois você vai se libertar dessa rotina pesada. E vai sair vitoriosa, fortalecida e com muito mais vontade e pique para curtir as melhores coisas da vida. O mundo é seu, Luíza!
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Só para não deixar vocês, queridos leitores, preocupados: a Luíza está bem. Fez quimio hoje. Chorou bastante pra pegar a veia e quase teve uma recaída naquelas crises de pânico que costumava ter. Porém, o soro foi rápido e viemos cedo pra casa. Ela dormiu bastante à tarde e acordou bem-disposta agora à noite. Tanto que, quase 23h30, está acordadona e tagarelando.
O post de hoje é um momento desabafo. Sei que esse blog sempre mostrou que estamos enfrentando esse período da maneira mais positiva e alto-astral possível. Isso não é mentira! Não viemos aqui escrever bonito para esconder nossos sentimentos. Falamos sempre com o coração, tentando expressar o que realmente acreditamos (ou queremos acreditar!).
Mas quero deixar claro que não somos assim o tempo todo. Sim, temos convicção da vitória. Sabemos que nossa menininha está bem e no caminho certo. Está recebendo um ótimo antedimento e o organismo está reagindo como o esperado. Mas não podemos fingir que nossa cabeça só opera no positivo em 100% do tempo. Nos preocupamos muito, temos medos, pesadelos, ainda choramos escondidos no banheiro quando bate aquela tristeza. Normal! O tratamento é longo e nos faz vivenciar situações tristes no hospital, nos faz sofrer a dor de outras pessoas...
Nossa vida é mesmo um carrossel de emoções. Não precisamos de muito para nos alegrar, basta um sorriso da nossa princesa. Por outro lado, não é preciso muita coisa para dar aquele frio na barriga. Se ela fica um pouco abatida depois de uma quimio, já acendemos o sinal de alerta.
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Interrompemos esse post para uma notícia extraordinária: domingo, Luíza ganhou uma nova janelinha!!! Caiu o primeiro dentinho da arcada superior... justamente o da frente. Ela tá toda feliz!
E, a seguir, como transformar a sala de casa em um acampamento de bichos de pelúcia... rs
Beijos,